By Do R7
Dona Esperança foi uma benzedeira que ajudava escravos que fugiam das senzalas
Rodrigo Vilela – R7
Assim como outros cemitérios do mundo, o Campo da Esperança, em Brasília, guarda os restos mortais de diversas personalidades e, claro, as histórias relacionadas a elas. A começar pelo nome do local.
Há por trás do nome do “Campo da Esperança” a história de uma escrava alforriada que viveu pela região e acabou sendo enterrada na área onde hoje é o cemitério. Conta-se que Esperança, como a ex-escrava se chamava, era uma mulher muito boa e recebia em sua casa outros alforriados e escravos que fugiam das senzalas.
O autor do livro “1001 Coisas Que Aconteceram em Brasília e Você Não Sabia”, que retrata casos pitorescos da capital federal, Hélio Queiroz, conta que não conseguiu documentar a história de Dona Esperança por causa da época do acontecimento, por volta de 1830.
— A crença na história da Esperança tem quase 200 anos. Por se tratar de uma escrava fugitiva é difícil encontrar registros históricos sobre ela.
Queiroz destaca que há duas versões sobre Esperança. Na primeira, a escrava leprosa conseguiu fugir com a família e se instalou na região onde hoje é o Plano Piloto. Na segunda, acredita-se que, por causa da doença, Esperança acabou alforriada.
— Antigamente aqui era terra de café e pecuária. Tudo movido por mão de obra escrava. Quando alguém tinha lepra era automaticamente dispensado pelos fazendeiros, até por preconceito com a doença.
Muitos dos que chegavam na casa de Esperança tinham a saúde debilitada. Sem recursos, a mulher preparava chás com ervas e raízes do cerrado e pedia comida para fazendeiros da região para alimentar os doentes. Em troca, Esperança benzia crianças e adultos. Acabou conhecida como Benzedeira do Quilombo.
Depois de velha, Dona Esperança adoeceu. Foi acometida por hanseníase, popularmente conhecida como lepra. Sem tratamento, a doença se desenvolveu e a mulher acabou morrendo sem cura.
Os donos de terras da região não aceitaram sepultar o corpo da benzedeira em suas fazendas. Havia o medo generalizado que a doença pudesse contaminar o solo e prejudicar a plantação. Dona Esperança acabou enterrada em uma cova onde hoje é a 916 Sul, quadra do cemitério Campo da Esperança.
Primeiro enterro
Oficialmente, a primeira pessoa enterrada no Campo da Esperança foi o ex-governador de Goiás e engenheiro Bernardo Sayão Carvalho Araújo, em 17 de janeiro de 1959. O engenheiro trabalhava na construção da rodovia Belém-Brasília (BR-010) quando uma árvore caiu sobre o barracão que estava em Açailândia, município maranhense a 600 km da capital São Luís. Bernardo Sayão não resistiu aos ferimentos e morreu aos 57 anos.
O engenheiro era muito querido entre os operários que estavam envolvidos na construção de Brasília. Por causa da morte, as obras da capital pararam pela primeira vez. O então presidente Juscelino Kubitschek era muito amigo de Sayão e lamentou a morte. Disse que “pela primeira vez na sua história, Brasília sustou a respiração, sentindo que lhe faltava ar nos pulmões. Havia tristeza e ansiedade. Respirava-se silêncio e consternação”.

Túmulo de Bernardo Sayão está na Praça dos Pioneiros. Ao fundo é possível ver a sepultura da família Kubitschek
Rodrigo Vilela – R7
Há também uma lenda em torno da morte de Bernardo Sayão. Diz-se que Curupira, figura que protege as matas no folclore brasileira, teria se irritado com o desmatamento causado pela construção da Belém-Brasília e, por vingança, teria provocado a morte do pioneiro.
Personalidades
Os túmulos das personalidades que estão enterradas no Campo da Esperança são os que mais recebem visitas durante o feriado de finados. De acordo com a administração do cemitério, as sepulturas de artistas, políticos e vítimas de crimes que chocaram o Brasil são as mais procuradas. Destacam-se entre elas:
Família Kubitschek – O jazigo de Juscelino, Sarah e Márcia Kubitschek está entre as mais procuradas. O corpo do ex-presidente não está mais no túmulo. Foi levado em 1981 para o Memórial JK.
Bernardo Sayão Carvalho Araújo – O engenheiro foi o primeiro sepultamento oficialmente realizado no Campo da Esperança. Amigo de JK, seu túmulo está posicionado próximo ao da família do presidente. Há registro que, ao terminar a marcação da área onde seria o cemitério, Sayão perguntou: quem será o infeliz que vai batizar esta terra?
Ana Lídia Braga – Um crime cometido em 1973, em plena ditadura militar, chocou o Brasil. A menina Ana Lídia Braga, de 7 anos, foi raptada na porta do Colégio Madre Carmem Sales, na L2 Norte, área central de Brasília. Dias depois do sequestro, o corpo da criança foi encontrado enterrado em uma área próxima à UnB (Universidade de Brasília) com sinais de violência sexual. Filhos de políticos e autoridades da época foram levantados como suspeitos pelo crime. Até hoje o caso não foi solucionado. Muitas pessoas acreditam que a garota é capaz de fazer milagres. Em sua sepultura é possível encontrar doces, brinquedos e mensagens de agradecimento.
Dulcina de Moraes – A bem sucedida atriz foi a fundadora da primeira faculdade de artes de Brasília. Foi responsável pela formação de diversas estrelas, como Marília Pêra e Bibi Ferreira. Morreu em 1996 em decorrência de uma diverticulite agravada por uma infecção hospitalar.
Athos Bulcão – Foi um importante artista brasileiro que, a convite de Oscar Niemeyer, ajudou a embelezar Brasília com seus famosos azulejos. É possível apreciar a obra de Athos Bulcão em prédios como o Congresso Nacional, Palácio do Itamaraty, Palácio do Jaburu, Memorial Juscelino Kubitschek, Capela do Palácio da Alvorada, Hospital Sarah Kubistchek. Foi amigo de artistas como Jorge Amado, Burle Marx, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira e Cândido Portinari. Morreu em 2008, aos 90 anos, devido a complicações do mal de Parkinson.
Movimentação
Durante o feriado de Finados deste ano, os seis cemitérios do Distrito Federal devem receber cerca de 800 mil pessoas. De acordo com a Secretaria de Segurança, o ponto com mais visitantes será o Campo da Esperança, na Asa Sul, o maior cemitério do DF.
Quase a metade das 401.300 pessoas sepultadas no Distrito Federal está no Campo da Esperança. São 173.500 pessoas enterradas no Plano Piloto. A lista dos cemitérios mais concorridos segue com Taguatinga (125.100), Gama (41.500) Sobradinho (20.400) Planaltina (30.900) e Brazlândia (9.900).
Via:: R7
Esperança, escrava e benzedeira, dá nome ao principal cemitério de Brasília

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