domingo, 19 de abril de 2015

Filme Branco Sai, Preto fica mostra história de violenta batida policial no Quarentão, berço da cultura black do DF

By Carol Oliveira, Do R7






Rapazes apresentam passinhos de soul no baile black do Quarentão
Divulgação/ Ceicine



Vencedor de prêmios internacionais e aclamado pela crítica especializada e popular, o filme Branco Sai, Preto Fica, mostra parte da história de um dos lugares que podem ser considerados berço da cultura black no Distrito Federal.



“Lá era onde os negros se reuniam, os pobres se reuniam. Todo mundo da periferia se encontrava”. Assim o morador de Ceilândia, conhecido como DJ Jamaika, descreve o Quarentão, um centro comunitário da maior cidade periférica do DF e palco dos mais famosos bailes blacks da Capital Federal.



O filme, que mistura história com ficção, mostra a ação policial que aconteceu no Quarentão e que dá título ao longa. Em uma violenta ‘batida’, a polícia separou brancos e negros (por isso Branco sai, preto fica) e saiu atirando. Na ação, o rapper Marquim da Tropa, adolescente na época, foi atingido e ficou paraplégico. Schokito, também atingido, teve que colocar uma perna mecânica. Os dois reviveram a história de 1986 no cinema: eles são atores no filme. Os personagens do filme viveram na pele a discriminação e os tempos glórios do lugar.



— Independente do que aconteceu, eu só tenho boas lembranças do Quarentão. Ali eu vivi a minha adolescência, ali eu aprendi a ser rapper, eu aprendi tudo o que sei sobre música black, sobre rap”, afirma Marquim da Tropa.



Aos 13 anos, entre 1984 e 1985, Marquim burlava o Juizado da Criança e do Adolescente e pulava a janela do antigo salão comunitário para participar dos bailes de música negra.







“Lá a gente aprendia a dançar”, diz Marquinho da Tropa, um dos frequentadores do Quarentão
Divulgação/ Ceicine



— A gente se preparava a semana toda para ir para o Quarentão domingo. Na frente tinha a “feira do rolo”, onde eu vendia disco para conseguir um “trocado” e ir para o Quarentão no fim de semana. Lá a gente aprendia a dançar. Tinham grupos que ensaiavam os “passinhos” durante a semana para se apresentar lá”.



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Domingo, entre 19h e 23h a comunidade local se reunia para ouvir as músicas black norte-americanas e dançar os “passinhos”, que motivavam disputas de dança entre os grupos. O momento mais esperado do baile era a disputa do soul music, quando os grupos e pessoas entravam em rodas para apresentar as danças, originalmente norte-americana, mas que ganharam contornos locais com as apresentações dos moradores de Ceilândia.



— O campeonato de Soul acontecia umas 21h. Era o ponto alto do baile. A gente ia para ver essas apresentações. Era bom demais”, relembra DJ Jamaika, assíduo frequentador do local desde desde 1984, quando tinha 14 anos.



O point revelou o talento da maior cidade do DF, com cerca de 700 mil habitantes e que hoje abriga a maior favela da América Latina, o Condomínio Sol Nascente, para a música de protesto. Nascidos ao som dos blacks do Quarentão, DJ Jamaika e Marquim da Tropa são alguns dos renomados reppers da cidade e que levam o centro cultural nas letras sobre a cidade. O desenvolvimento do rap na cidade é mostrado por Adirley Queirós, diretor do Branco sai, Preto fica em outro longa-metragem Rap, o canto da Ceilândia.



No final dos anos 90, o Quarentão já não abrigava os tradicionais bailes blacks com tanta frequência. Em 2002, o salão comunitário deu lugar ao Restaurante Comunitário de Ceilândia. A medida é alvo de críticas de quem viveu a história do local.



— A gente perdeu não só um lugar de cultura, mas um lugar para uso da comunidade. Ali poderiam ser realizadas festas das pessoas, festas populares. O Restaurante é importante, mas deveria ter sido colocado em um lugar da cidade onde as pessoas precisam mais, avalia DJ Jamaika.



Via:: R7



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